quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Odisseu a Telêmaco.

de Jôsef Bródski.
(tradução livre de Diego Moschkovich)

Meu Telêmaco,
A guerra de Tróia
acabou. Quem ganhou - não me lembro.
Devem ter sido os gregos: afinal,
só gregos deixariam tantos cadáveres
espalhados fora de casa.
E ainda assim, o caminho para casa
se mostrou longo demais,
como se Posêidon tivesse, enquanto perdíamos
tempo, alargado o espaço.
Já não sei onde estou,
o que há diante de mim. Uma ilha
imunda, mato, casas, grunhidos de porco,
um jardim abandonado, uma imperatriz,
grama e mais pedras... Querido Telêmaco,
todas as ilhas se parecem umas com as outras
quando se anda tanto
e o cérebro funde contando as ondas,
os olhos choram, entulhados de horizonte
e a carne das águas entope os ouvidos.
Não me lembro mais como terminou a guerra
ou de quantos anos tens - não lembro.
Cresça forte, meu Telêmaco, cresça.
Só os Deuses sabem se nos encontraremos outra vez.
Você agora já não é mais a criança
para quem domei os touros.
Se não fosse por Palâmedes, viveríamos juntos.
Mas talvez ele estivesse certo:
sem mim você está livre das paixões de Édipo,
e teus sonhos, meu Telêmaco, são puros.
--1972

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